O Cristão E A Cultura

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1. O Cristão E A Cultura
O Cristão E A CulturaBy Joe Crews

O Cristão E A Cultura

Temos ouvido muito nestes dias a respeito de espécies em extinção no mundo físico da natureza. Algumas delas quase se extinguiram enquanto seus próprios ambientes de vida foram invadidos e destruídos pelo avanço da civilização.

Eu gostaria de sugerir que há um problema similar no mundo espiritual também. Um certo tipo de fé histórica e estilo de vida estão sendo lentamente silenciados pelo avanço implacável de uma voraz e estranha cultura. Paulo avisou de um tempo quando a verdadeira igreja poderia ser ameaçada por um espírito de conformidade com os valores mundanos. Ele disse: “Não vos conformeis com este mundo...” Romanos 12:2. Um tradutor tornou esse texto mais indispensável: “Não deixes o mundo a teu redor comprimir te no seu próprio molde” (Phillips).

Há razão para acreditarmos que a simples fé de nossos pais tem sido corroída por uma florescente sociedade hedonista? Jesus fez algumas claras explicações sobre ameaças espirituais que confrontariam Seu povo antes de Seu retorno. Ele disse: “Assim como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do filho do homem”. Lucas 17:26. Obviamente haverá alguns paralelos dramáticos entre a geração tecnológica e os antediluvianos de 6000 anos atrás. Certamente o Senhor não está falando aqui de semelhanças científicas, mas algumas coisas poderiam ser o mesmo. O quê, por exemplo? A resposta é encontrada no livro das origens: “Viu o Senhor Deus que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos seus pensamentos e de seu coração era só má continuamente”. Gênesis 6:5.

Poderíamos citar vários textos para mostrar que haverá excessivamente uma obsessiva auto-indulgência nos últimos dias, como foi nos dias de Noé. Amor de prazeres, vaidade, desejo por supremacia e, acima de tudo mais, um orgulho desordenado, poderia caracterizar a condenada civilização do fim dos tempos. O eu repousa na raiz de quase todo pecado pelo qual o homem será condenado. Foi o espírito do orgulho egoísta que precipitou Lúcifer ao seu curso original de rebelião contra Deus. Ele declarou que seria o maior e se assentaria aos lados do norte. Ele queria ser até mesmo “semelhante ao Altíssimo” e tomar o lugar de Deus no controle do universo. Após ser expulso do Céu, Satanás empenhouse em infectar a família humana com os mesmos maus princípios de auto-engrandecimento que o transformaram num demônio. Ele apelou à mente não-caída de Eva a tornar-se mais sábia para que ela fosse como Deus. Desde aquele encontro com nossos primeiros pais, Satanás tem usado exatamente os mesmos meios de abordagem para todos os descendentes de Adão. Suas tentações são sempre focalizadas no ponto mais vulnerável de fraqueza da caída natureza humana -e essa fraqueza é o orgulho; o desejo de atrair atenções para si.

Tem a profecia de Jesus se cumprido hoje? Têm as mentes dos mais modernos filhos de Adão sido invadidas pela “contínua maldade”? Ninguém que leia jornais pode ter dúvida alguma quanto à resposta a essas perguntas. Assassinatos, drogas, roubo, terrorismo, satanismo e todo relato de perversão que se possa imaginar, fizeram desse planeta um lugar de medo. E há um princípio básico maligno atrás de todo tipo de crime existente hoje. A natureza do eu quer atenção. Ela quer governar, se satisfazer, ter seu próprio caminho. Pessoas são freqüentemente assassinadas porque elas se colocam no caminho de quem está determinado a conseguir dinheiro, poder ou atenção. O torcido ego da natureza caída exige ser o maior, ter mais, e ficar no topo. Os problemas com droga e sexo estão sempre relacionados com a satisfação própria. Corrupção política e compromissos espirituais estão igualmente fixados na avareza, para ganhar tanto em recursos materiais quanto em popularidade. Se olharmos para Wall Street, para os profissionais do esporte, a política ou a religião, vemos manifestações extremas da natureza egoísta buscando ser reconhecida e exaltada.

O que tudo isso tem a ver com a perda de um estilo de vida espiritual entre o povo de Deus? Jesus colocou seu dedo no coração do problema quando Ele disse: “Por se multiplicar a iniqüidade o amor de muitos esfriará”. Mateus 24:12. Em outras palavras, haveria um comprometimento correspondente na igreja quando as condições do mal proliferassem no mundo. A influência mortal de um ambiente autocentralizado gradualmente infectaria aqueles que uma vez tiveram uma genuína relação de amor com Deus. Esse amor se tornaria cada vez mais frio.

Estamos sugerindo que todas aquelas violentas cenas de crimes e drogas se repetiriam entre os santos? Não. Jesus não disse que aquelas iniqüidades viriam a caracterizar Sua igreja, mas Ele concluiu que elas gerariam um descuido dentro do corpo de Cristo que levaria à perda de fé e amor. Note a significativa pergunta feita por Jesus: “Quando porém vier o filho do homem, porventura achará fé na terra?” Lucas 18:8. Ninguém pode negar que uma indiferença letárgica tem se arrastado sobre nós, diluindo muitas das singulares práticas devocionais que identificam a verdadeira adoração pelos séculos do passado. Jesus indicou que uma sociedade secular desrespeitosa poderia dizimar as fileiras de Seus próprios seguidores a tal nível que apenas poucos sobreviveriam. “Como foi nos dias de Noé...” Quantos foram salvos naquele tempo? Apenas oito. Jesus disse: “Assim será nos dias do Filho do Homem”. Ele estava falando de Seu retorno. Um pequeno remanescente perceberia o contaminador processo do comprometimento gradual que poria em risco até mesmo os “próprios escolhidos”. Jesus disse: “Estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida e poucos há que a encontram”. Mateus 7:14.

Eu gostaria de sugerir que qualquer plano satânico, capaz de destruir a grande maioria dos crentes, teria que ser muito sutil, tortuoso e quase imperceptível. É também muito evidente que tal plano teria que ser tão bem disfarçado que os enganados por ele nem sequer dariam conta da perda de sua fé. OAmor esfria gradativamente. O mundo se aglomera fechando-se mais e mais. A conformidade começa em questões que parecem pequenas e inconseqüentes.

Veja mais uma vez a analítica sentença de nosso Senhor ao descrever a anatomia do comprometimento. Ele disse que “por causa da abundância da iniqüidade”, cristãos esfriariam. O amor deles esfriaria muito. Paulo profetizou que “homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados”. II Timóteo 3: 13. Enquanto o mal lentamente se torna pior no mundo, mais o amor esfria na igreja.

Por que Jesus ligou a perda de poder espiritual ao aumento da iniqüidade no mundo ao nosso redor? Simplesmente porque Ele entendeu como nós poderíamos ser afetados pela visão e pelos sons de uma sociedade carnal. Repetidas vezes a Bíblia nos adverte contra as relações com o mundo. Jesus disse: “Se vós fosseis do mundo o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece.” João 15: 19. Paulo escreveu: “Saí do meio deles e apartai-vos, diz o Senhor e não toqueis nada imundo e Eu vos receberei”. II Coríntios 6: 17. João declarou: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há”. I João 2: 15. Tiago disse: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Tiago 4: 4.

A fim de entendermos melhor sobre o que estas inspiradas pessoas tentaram nos avisar, leiamos as iluminadas palavras do Senhor em Lucas 16: 15. Disse Ele: “...O que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação”. Aí está o ponto crucial da verdade que estamos buscando. Jesus definiu o inimigo para nós tão claramente que nenhum cristão precisa ficar confuso. O “mundo lhes odeia” porque vocês não gostam das mesmas coisas que eles gostam! “A amizade do mundo é inimizade contra Deus”. Tiago 4: 4.

As coisas mais estimadas no mundo hoje são total abominação aos olhos de Deus, e verdadeiros cristãos deveriam estar alertas sobre o que elas são.

Uma pergunta muito importante surge agora na mente de muitos: Como podemos saber que coisas se enquadram na categoria de abominação? Obviamente estamos falando de valores sociais e práticas culturais. Quase tudo que fazemos é baseado num padrão de costumes correntes. São todos eles errados? Que aspectos de prevalecentes estilos de vida são aceitáveis e quais não são aceitáveis? Jesus tem certamente nos mostrado que lá fora, no mundo, há abundância de iniqüidade crescendo a cada instante, e que isso é responsável pela maioria dos cristãos perder seu caminho. Ele também disse que alguns dos comportamentos culturais mais populares no mundo são uma abominação a Seus olhos.

Eu creio que a resposta para estas questões está nas palavras de nosso Senhor. Ele disse: “Quem vier após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me.” Por favor, note que Jesus não diz “negue a si mesmo o álcool e as drogas ou o sexo ilícito”. Ele apenas diz “negue-se a si mesmo.” E ponto final. Todo aquele que é requerido a realmente fazer isso diz “não” ao eu natural que reside em cada um de nós. Uma vez que o egoísmo está por trás de todo pecado, esta vitória trará todas as outras vitórias com ela. Ceder às exigências do eu natural é participar no mesmo pecado que influenciou Lúcifer e mais tarde levou à morte de Jesus na cruz. É o constante subjugar daquela natureza carnal inferior que distingue os filhos da luz dos filhos das trevas. Apesar de a conversão não remover essa natureza egoísta, ela traz uma nova autoridade espiritual à vida, a qual domina as tendências do mal, trazendo-as sob o controle de uma vontade santificada.

É importante notar que um contínuo combate de vida-ou-morte está sendo travado em cada Cristão renascido. A sempre presente natureza caída estará constantemente em conflito com a mente espiritual. Devemos escolher qual das duas comandará nossas vidas. Jesus disse: “Não podeis servir a dois senhores”. Ou é o eu ou o Salvador. Mas muitos negligenciam o fato de que temos a responsabilidade de dizer não ao eu. Jesus disse: “Negue-se a si mesmo”. Todo dia temos que escolher o que olhar, ouvir, cheirar, sentir e saborear. Estes cinco sentidos são as portas que dão acesso às influências que nos santificam ou nos maculam. A mente automaticamente se adapta ao que quer que nós permitamos entrar através das percepções sensoriais.

Isto nos leva de volta à questão de quais práticas culturais podemos nos incumbir com segurança. Todas elas terão uma influência na mente, por apelarem a [pelo menos] um dos nossos sentidos. Pela graça de Deus podemos fechar a porta a qualquer influência cultural que alimente o eu natural. Necessitamos aprender quais nos enfraquecerão e quais nos fortalecerão. Práticas culturais não são boas nem más simplesmente por terem se tornado a norma comportamental para uma sociedade contemporânea. Elas devem ser testadas por algo mais profundo que uma moda passageira ou costume.

Há muitos cristãos que acreditam que práticas culturais não podem ser julgadas como errôneas porque elas representam apenas as aplicações de um princípio e não o próprio princípio. Eles argumentam que uma prática pode ser correta para uma sociedade, mas errada para outra, dependendo dos valores culturais que operem naquele tempo. De fato, existem exemplos que poderiam ser dados para demonstrar que isto é válido como um princípio geral. Mas há também uma ou duas notáveis exceções a essa regra. Se não reconhecemos estas exceções, estamos sujeitos a alguns penosos erros de interpretação bíblica que podem por em risco nossas almas. Fico alarmado ao ver, tanto teólogos quanto leigos aplicando esta regra cultural à sua compreensão das Escrituras. Eles supõem que os escritores da Bíblia foram tão influenciados por tradições culturais prevalecentes, que incorporaram muitos dos “pode” e “não pode” sociais de então dentro de seus escritos “inspirados”. Assume-se assim que se os autores bíblicos estivessem escrevendo nos dias de hoje eles não tomariam a mesma posição. Desta forma, muitos ensinamentos bíblicos que são vistos como ligados a influências culturais são simplesmente desqualificados como irrelevantes para nossos dias.

Ainda que seja apropriado considerar o tempo e o lugar, nunca se deveria permitir que esses fatores anulassem a autoridade de instruções canônicas inspiradas. É coisa séria assumir a responsabilidade de escolher dentre os conselhos de Deus o que deve ser e o que não deve ser aplicado hoje. Um juízo eterno está determinado na Palavra de Deus, e nenhum homem deve retirar nada dela ou adicionar-lhe o que quer que seja. Que terríveis contas serão prestadas com quem enfraquecer um único requerimento do Registro Inspirado!

É interessante notarmos quais ensinos bíblicos estão sendo modificados por um apelo à cultura. Quase que invariavelmente provam ser assuntos relativos a proibições ou restrições sobre práticas populares de estilo de vida. Você sabe por quê? Porque muitas destas práticas estão enraizadas no prazer do egocentrismo. Ninguém se objeta às aplicações de um princípio ou de uma verdade bíblica, contanto que isso não faça exigências envolvendo a negação do eu. Qualquer coisa que desafie a tendência carnal básica do egocentrismo é difícil de aceitar. É de se admirar o fato de que os padrões cristãos estejam sendo gradativamente reinterpretados a fim de acomodarem mais das crescentes modas egocêntricas do mundo? Padrões espirituais altos sempre requerem uma sujeição do eu e de tudo que glorifica o pervertido orgulho da natureza caída.

Jesus disse isso muito sucintamente ao declarar: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo”. O espírito de orgulho tem continuamente levado a atitudes que se focalizam na auto-exibição. Nosso Senhor disse que o eu deveria ser negado. Muitos textos bíblicos indicam que Deus estava insatisfeito com o adornamento exterior das pessoas. O desagrado divino para com uso de jóias relatado na Bíblia está em direto conflito com a tendência natural vaidosa da raça humana. Não é de surpreender que esforços estejam sendo feitos para invalidar os claros conselhos bíblicos neste e em outros assuntos, por uma nova abordagem hermenêutica (novos parâmetros de interpretação bíblica). Eles dizem que coisas específicas não se aplicam a nós hoje porque os escritores inspirados foram influenciados por uma atmosfera social prevalecente na época e cultura em que eles viviam. As práticas culturais que eles consideravam objetáveis não mais o eram, pois os tempos haviam mudado.

Esta mesma racionalização tem sido aplicada quanto à questão de ordenar mulheres para o ministério, bem como em outras áreas de forte interesse público. A Bíblia não pode falar autoritariamente nestes assuntos porque os escritores estavam simplesmente expressando o ponto de vista popular e corrente de seu sistema cultural. Assim se forma o argumento daqueles que têm cedido à pressão da opinião da maioria. Eu tenho observado muitos de meus amigos inverterem suas posições na questão de jóias e ordenação feminina. Eles crêem que a evidência bíblica é contra as duas práticas, mas não acreditam que as proibições devam ser aplicadas hoje. Assim mudaram para a posição a qual acreditam que os iluminados escritores assumiriam se eles estivessem vivendo sob nossas condições culturais hoje.

Agora eu gostaria de explanar a real impropriedade do argumento “cultura” por uma visão mais detalhada da questão do uso de jóias. A maioria das pessoas concorda que há uma abundância de referências negativas quanto ao uso de ornamentos na Bíblia. Em alguns lugares, uma lista dos itens decorativos é verdadeiramente dada nos textos, E o próprio Senhor deu instruções para serem retirados e lançados fora. Em todos os casos os objetos condenados eram parte de práticas culturais comuns da época. Mas porventura isso os impediu de receberem a desaprovação divina?

Digo que Deus revelou claramente que Ele estava atacando um problema mais profundo do que simplesmente uma conformidade social ou cultural. Em Êxodo 33:5 Ele disse: “Povo obstinado és… porém agora tira de ti os teus atavios”. Em Isaías 3:16-18 o Senhor dirige-se às mulheres de Israel desta maneira:

“Porquanto as filhas de Sião se exaltam, e andam de pescoço erguido, e têm olhares impudentes, e, quando andam, como que vão dançando, e cascavelando com os pés, portanto, o senhor fará tinhosa a cabeça das filhas de Sião e o Senhor porá a descoberto a sua nudez. Naquele dia, tirará o Senhor o enfeite das filhas das ligas, e as redezinhas, e as luetas”.

Paulo admoesta:

“As mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos”. I Timóteo 2:9.

Pedro diz: “O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus”. I Pedro 3:3-4.

Ninguém nega que Deus está abordando aqui um princípio, e não um simples costume social localizado. A mulher, em todos os casos, foi afligida com o orgulho, o grande pecado básico da humanidade caída. O uso de jóias era meramente um sintoma do problema real, mas estava aniquilando o princípio espiritual de modéstia e humildade. Os textos mostram que as mulheres foram citadas como exemplo de violação do princípio. Deste modo, a desaprovação de Deus não foi baseada numa prática cultural, mas numa falha básica comum a toda família humana. Houvesse isto estado atrelado somente à cultura, e as objeções de Deus poderiam ter mudado quando, e se, a cultura mudasse. Mas, uma vez que a proibição de Deus descansa na inerente condição da natureza humana, permaneceria a proibição enquanto permanecesse a natureza caída. Se certa prática incita a pecar porque apela a uma fraqueza em todos os seres humanos, então, só com base nisso, tal prática é errada. E será errada quando e onde quer que se manifeste na natureza humana caída. Ninguém pode apontar um único período na história em que o uso de ornamentos não tenha feito aflorar da natureza carnal o mesmo incontrolável orgulho que os escritores inspirados viram e condenaram em seus dias. Para sermos totalmente honestos, devemos reconhecer que, culturalmente, as práticas de adornamento parecem ser quase as mesmas dos dias de hoje como foram quando a Bíblia foi escrita. Uma vez que essas práticas foram retratadas pelos inspirados profetas como sendo uma violação dos princípios espirituais daquele tempo, nós não temos absolutamente base alguma para assumir que elas não seriam igualmente erradas hoje.

Se pudesse ser demonstrado que os objetáveis adornos ativam o pecaminoso orgulho numa era, mas não em outra, então o argumento cultural poderia ter alguma validade. Mas mesmo assim deveríamos perguntar: Por que Deus incluiria tantas instruções específicas nas eternas Escrituras, as quais seriam aplicáveis num tempo, mas não em outro? É muito leviano assumir que em face de uma realidade cultural devemos destruir a aplicação daquelas proibições para gerações posteriores. É certo e seguro que ninguém pode honestamente argumentar que o orgulho é um problema menos tortuoso em suas manifestações hoje do que o foi nos dias de Isaías, Pedro, Paulo ou João.

É verdadeiramente assustador o pensamento de que o grande pecado original, no autor de todo o mal, foi o pecado do orgulho da aparência. As Escrituras declaram de Lúcifer:

“Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu esplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem”. Ezequiel 28:17.

Pense nisso! Ali estava uma criatura sagrada, totalmente diferente da raça caída de Adão. Ele não tinha propensões naturais para o pecado, mas ainda assim foi vencido rendendo-se ao apelo da vaidade pessoal. Temos todas as razões para reconhecer esta tentação como a mais poderosa que qualquer ser livre poderia encarar. Certamente se um orgulho incontrolável por seu “brilho” e “beleza” dominou a mais gloriosa das criaturas de Deus, então nós mortais devemos ser milhares de vezes mais susceptíveis ao mesmo apelo. É esta a razão pela qual Deus nos adverte contra alimentarmos as brasas de nosso amor próprio adornando-nos fisicamente? Estava Deus tentando nos proteger de uma perversidade inata que foi quase uma segunda natureza para cada descendente de Adão?

Isto certamente explicaria a propensão das mulheres a ficarem tão emocionalmente agitadas com a idéia da extinção do uso de maquiagem e jóias. Durante anos eu me perguntei: Por que tantas mulheres freqüentemente reagem com lágrimas e raiva, mesmo quando esse assunto é apenas levemente abordado? Tenho observado a mesma visceral reação de alguns homens quando se fala em abandonar o uso de anéis e/ou correntes. Agora eu entendo por que a ofendida natureza egoísta lança-se para defender esses pontos. As mais profundas correntes do orgulho obstinado são afrontadas pela idéia de remoção e desuso dos objetos de adorno exterior. Poucos admitirão estar realmente apegados a bijuterias brilhantes, mas nenhum deles tem sido capaz de explicar, se é que isso é verdade, o porque de eles ficarem tão perturbados com a idéia delas. A verdade é que o orgulho é tão sutil, sendo a raiz da maior parte dos outros pecados, que ele se entremete quase irreconhecivel em muitas práticas culturais. Ele não somente tenta atrair atenção para o eu fisicamente pelo uso de adornos artificiais, mas também intelectualmente pelo buscar domínio em conversas, e espiritualmente chamando a atenção para seu estilo de vida obediente. Na realidade, o orgulho espiritual de quem se considera justo pode ser mais mortal do que o orgulho de quem é vaidoso.

Algumas vezes eu tenho sido inquirido sobre por que Deus nos negaria o uso de ouro, jóias, pérolas, etc., quando a Cidade Santa será verdadeiramente composta de gemas tão raras e preciosas. Somos novamente lembrados de que as pedras preciosas não são o problema; elas não são o mal. O problema é o que o uso destas coisas faz à natureza humana carnal. Depois que esta natureza caída for removida, e os caracteres purificados forem transladados para a gloriosa imortalidade, não mais haverá uma inferior natureza egoísta para a qual apelar. Coroas de ouro poderão ser seguramente usadas por todos os remidos, e nenhum ser celestial estará buscando chamar atenção para qualquer outro que não seja o Cordeiro que estará no meio de nós.

Brincos reluzentes, pulseiras, anéis e maquiagem não serão adquiridos e usados pelos santos para parecerem mais bonitos ou mais sofisticados. A beleza do Senhor nosso Deus estará em cada homem, mulher e criança que farão parte dos redimidos, e ninguém desejará ficar mais bonito do que o que nosso Deus nos faz por Seu próprio adorno divino. Quão maravilhoso seria se todos pudessem agora estar satisfeitos em ostentar a mesma beleza celestial de Sua justiça sem turvá-la com coisas baratas [no sentido mais amplo da palavra] e artificiais.

Alguns têm sugerido que todas as aplicações específicas de um princípio devem ser submissas às convicções individuais. Estas pessoas afirmam, portanto, que nenhuma igreja deveria estabelecer um padrão que proíba certos artigos de adorno. Mas, se isto fosse verdade, por que o Espírito Santo inspiraria os escritores bíblicos a fazerem listas dos itens de vestuário de então que eram repreensíveis? Foi Deus quem determinou que coisas como brincos, anéis e olhos pintados desagradam a Ele. E isso não tem nada a ver com cultura! Estas coisas foram condenadas por alimentarem o apetite carnal de nossa natureza pecaminosa. Elas violam um princípio sagrado cujas raízes são muito mais profundas que os rasos caprichos de cultura contaminada.

A verdade é que há várias manifestações modernas de vaidade que eram inimagináveis nos dias dos escritores bíblicos. Estivessem eles escrevendo hoje, e iriam, sem sombra de dúvida, chamá-las pelo nome e dariam advertências contra a aceitação delas. Se há incerteza por parte de alguns quanto a quais das últimas “inovações” de vaidade seriam especificamente nomeadas, basta olhar a lista das vaidades que foram fortemente condenadas pelos autores bíblicos há centenas de anos. Eles olhariam para os mesmos símbolos de vaidade -anéis, brincos e maquiagens -e escreveriam “que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos”. I Timóteo 2:9.

Eu vejo o problema de interpretação cultural como uma das mais sérias questões na área da pesquisa bíblica. Qual erudito ou leigo não inspirado poderia reivindicar para si a sabedoria em separar problemas culturais de princípios eternos (se é que há questões culturais na Bíblia)? Espanta nossas mentes a idéia de que Deus pudesse bagunçar as páginas de Sua eterna e viva Palavra com representações que só teriam algum significado para um pequeno grupo de pessoas num curto espaço de tempo determinado.

Através da apelação desta hermenêutica pervertida, milhares encontraram uma maneira de escapar de “desagradáveis” exigências da Bíblia. Não é difícil ser persuadido se alguém já está procurando meios de esquivarse de um dever penoso.

O caos poderia ser sem proporções se padrões específicos da Bíblia fossem feitos sob medida para as extravagâncias sociais de uma época particular. Como poderia um texto da Bíblia ser confiável se qualquer parte dela pudesse ser atribuída a um escritor que fora mais influenciado por seu ambiente que pelo Espírito Santo? Muitas vezes os profetas inspirados tiveram que se posicionar contra atividades culturais extremamente populares. Alguns foram levados à morte porque eles ousaram contestar os costumes de uma ordem social devassa.

Precisamos estudar novamente como homens foram movidos pelo Espírito Santo a transformar o pensamento de Deus em verbos e adjetivos humanos. “Toda a Escritura é dada por inspiração de Deus”, não apenas a parte que parece relevante à minha época, cultura ou sexo. A Bíblia é absolutamente eterna em sua aplicação universal a cada pessoa, em cada época e sob todas as circunstâncias.

Mas agora vamos considerar o fato de que a questão das jóias não pode realmente ser posta de maneira apropriada numa categoria de “questão cultural”. O argumento básico em favor disso entra em colapso ao descobrimos que a prática do uso de ornamentos nos tempos bíblicos e no presente é essencialmente a mesma. É verdade que os escritores bíblicos observaram que a maioria das mulheres nos dias deles usava quase toda variedade de jóias decorativas - exatamente como vemos hoje. Entretanto, mesmo com aquelas práticas sendo culturalmente aceitáveis perante seus olhos, eles escreveram contra o uso delas. Se de fato eles estivessem sendo influenciados por questões culturais, certamente teriam se inclinado à tolerância da prática. Como podemos acusá-los de ter tal propensão, quando eles escreveram contra as demandas culturais? E baseados em quê poderíamos crer que eles escreveriam coisas diferentes hoje? Se estes homens vivessem hoje, eles veriam coisas estranhas e desconcertantes no cenário moderno, e eu até sugeriria que brincos, pulseiras, anéis e maquiagens talvez fossem o costume mais familiar que eles viriam a relatar.

Ousaríamos nós dizer que eles foram influenciados a escrever contra as práticas mais populares simplesmente porque “todo mundo” usava ornamento? E, se assumirmos uma visão assim quanto a este problema, como poderíamos torná-la consistente com outra situação paralela como a da ordenação de mulheres pastoras? Nos tempos do Novo Testamento, mulheres eram culturalmente proibidas de serem líderes espirituais, e Paulo tomou uma firme posição contra a função pública delas nesse campo. Assim sendo, ele tem sido acusado de uma inadequada inclinação favorável às exigências culturais. Ainda no mesmo capítulo, porém, Paulo escreve contra o uso de ornamentos por parte das mulheres, embora sua posição, desta vez, tenha sido contrária às exigências culturais.

Então o pobre Paulo tem sido acusado de preconceito cultural, não importa o que ele escreveu. Não está claro o porquê de ter ele escrito contra práticas que eram populares, e também a favor de outras práticas também consideradas populares? Paulo escreveu aquilo que o Espírito Santo o inspirou a escrever. Se iria concordar ou discordar da opinião da maioria, essa era a menor das preocupações do apóstolo. Este homem encarou muitas formas de oposição violenta sem comprometer sua mensagem. Que insulto é, mesmo propor que Paulo possa ter permitido que circunstâncias culturais ditassem seu posicionamento em problemas controversos, quer fossem populares quer não!

Certamente agora deve estar claro para você por que algumas pessoas hoje estão inconsistentemente acusando Paulo de preconceito em ambas as questões. É a única maneira de desacreditar nas palavras inspiradas da Escritura, as quais despedaçam o próprio estilo de vida preferido dessas pessoas. A verdade é que os acusadores modernos de Paulo são os únicos influenciados pela cultura. Parece que eles não têm a coragem de erguerem-se contra a opressiva “maré” de práticas culturais na área de adornos pessoais e ordenação feminina, e a única maneira de justificar seus compromissos com uma cultura mundial é, de qualquer maneira, rebaixar as claras afirmações bíblicas que condenam aquelas práticas. Mas eles não podem alcançar isso em ambas as situações. Eles precisam definir como a cultura supostamente afetou os autores bíblicos inspirados. Foram eles pressionados a favorecer aquilo que era culturalmente popular? Ou foram eles pressionados a condenar costumes da época que eram aceitáveis? Independentemente de como eles respondam a essas perguntas, fica claro seu real motivo. A argumentação de que os pontos aqui tratados não são questão de princípios e sim de culturas parece prover uma maneira de ceder à natureza do eu e ser popular com a multidão, mesmo se isso envolver a rejeição de certas partes da Bíblia como um todo.

Devido à sua tendência de enfraquecer a credibilidade das Escrituras, muitos defensores da visão de interpretação cultural tentam diluir sua abordagem humanística com uma variedade de argumentos superficiais e repetitivos contra a aplicação literal dos textos. Por exemplo: É dada grande importância a palavras Gregas e Hebraicas que, em sua tradução, descrevem se a peça do vestuário é funcional ou decorativa, ou seja, se é uma necessidade fazer parte da roupa, ou se está ali somente para adornar. E porque a Bíblia adverte contra a ostentação e a extravagância na aparência de uma roupa que seria aceitável de outra forma, faz-se parecer que se nós aprovamos qualquer tipo de roupa que venha a ser cara, então devemos aprovar o uso de ornamentos e jóias também.

Essa mesma manobra exagerada visa confundir a questão ainda mais comparando objetos utilitários como, por exemplo, pulseiras de relógios, broches, grampos de gravatas e abotoaduras, com jóias decorativas. Ainda que deva ser sábio evitar o uso de certos itens funcionais por causa do modo pelo qual eles chamam a atenção de alguns, há uma clara distinção entre as duas classes de artigos.

Por exemplo, ninguém jamais sugeriria que um par de óculos estivesse na categoria de ornamentos. Contudo, se a armação fosse usada sem lentes, certamente seria classificada como puro ornamento. Até mesmo um anel poderia não ser considerado como jóia se estivesse ali para manter o dedo preso à mão! Isto o tornaria objeto funcional e necessário. Geralmente, aqueles que levantam estes argumentos débeis estão simplesmente tentando criar uma racionalização para continuar na indulgência para com o eu. Infelizmente, o resultado previsto é a perda da confiança na integridade das Escrituras.

A ordenação feminina é endossada em virtude da declaração unilateral de Paulo que o ancião deveria ser “marido de uma mulher”. A explicação do apóstolo sobre o papel secundário da mulher em questões espirituais, baseado na ordem da criação, tem sido totalmente rejeitada pelo novo revisionismo cultural. Eles acusam Paulo de assimilar um preconceito chovinista pessoal e/ou ter textos de suas epístolas influenciados por imposições culturais locais. O mais forte argumento que eles oferecem em favor do sacerdócio e ministério femininos é construído em torno dos versos que aludem à igualdade da salvação para todo homem, mulher, Judeu ou Gentio. Aqueles versos nada têm a ver com a indicação de cargos ou deveres espirituais. Eles estão se referindo à salvação e ao valor moral. “Por que todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus…nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Gálatas 3:26-28. As relações escravo/mestre foram fisicamente inafetadas pela entrada em Cristo, assim como foram inalteradas as relações físicas macho/fêmea. Espiritualmente, sim. Mas não de outra maneira. Os papéis físicos não foram alterados, nem legalmente e nem na prática.

A propósito, devemos destacar que existem alguns papéis muito importantes e específicos para mulheres executarem na igreja hoje. Só porque elas foram excluídas da liderança espiritual não quer dizer que elas não tenham responsabilidades em repartir ou ensinar. Com exceção de servirem como sacerdotisas ou anciãs, há várias funções ministeriais disponíveis para dedicadas mulheres cristãs. Milhões estão servindo nestes cargos de apoio sem qualquer pensamento de aclamação pública ou ordenação.

Em ambos os casos de jóias e ordenação de feminina, a Bíblia revela claramente que a oposição não estava ligado à cultura. Foi, de longe, mais profundo. A ornamentação violou o princípio espiritual de modéstia e humildade, enquanto a ordenação de mulheres violou a ordem espiritual de papéis criativos. Paul apontou para esses princípios básicos para lidar com as duas questões, mas esse fato tem sido ignorado por aqueles que procuram fazer os dois uma mera questão de relatividade cultural.

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